segunda-feira, 1 de maio de 2006

Catulo - Parte II

A poesia de Catulo

Os poemas que de Catulo que conhecemos foram preservados em vários manuscritos com uma história tortuosa. A partir do sec. XIV, estes manuscritos começaram a ser copiados e estudados pelos humanistas. Neles se recolhe uma antologia de 116 poemas que, formalmente, se dividem, sem qualquer ordem cronológica, em 60 poemas curtos com diferentes metros (1-60), 8 poemas longos (61-68) e 48 epigramas em dísticos elegíacos (69 – 116).

A poesia de Catulo trata dois grandes temas: a poesia de amor e a poesia satírica (havendo, claro está, muitos poemas que não caiem em qualquer destas duas categorias).

Nos poemas de amor, sobretudo os de menor extensão, Catulo mostra todo o seu temperamento emotivo, entre o amor exaltado (5) ao ódio maledicente (58), na sua relação com Lésbia. No entanto, Lésbia não tem o exclusivo dos poemas de amor ou eróticos, havendo outros que são dedicados a outras pessoas (homens e mulheres).

A poesia satírica é, por vezes, extremamente violenta e mesmo obscena, dirigida, entre outros, a ex-amigos, outros amantes de Lésbia, poetas exteriores ao seu grupo, políticos, entre eles, César (93) e Cícero (49) e ainda outras personagens actualmente desconhecidas. Apesar de muitos deles serem violentos e cruéis, outros há em por eles passa uma fina ironia (84).

Mas, há muitas poesias que não se enquadram nestes dois temas principais. Catulo, por exemplo, celebra, de um modo igualmente exuberante, os seus amigos (13) e companheiros literários (95). São também muito conhecidos os seus poemas em que celebra a casa de campo familiar de Sírmio (31) ou a sentida homenagem ao seu irmão falecido (101)

Catulo e os poetae noui

Catulo pertenceu a um grupo de poetas que foi denominado neoteroi ou poetae noui, sendo que, deste grupo, apenas as obras de Catulo chegaram até nós. Esta denominação, feita, por exemplo, por Cícero (Att., 7.2.1) tinha uma conotação negativa, pois no que toca à poesia, Cícero apreciava o muito tradicional Énio (239-169? a.C.).

Mas em que consistiu a revolução feita pelos poetae noui? Como se disse, o único poeta cuja obra nos chegou foi Catulo. Por isso, é para a sua obra que temos de olhar para tentar definir em que consistiu a sua inovação.

Não foi certamente Catulo quem introduziu a poesia lírica em Roma, mas foi ele quem lhe deu, definitivamente, as suas lettres de noblesse na cidade. Na sua obra, os poemas líricos, isto é, os poemas curtos e os epigramas distinguem-se bem dos poemas narrativos ou elegíacos. Na maioria dos poemas líricos, Catulo expressa todos os seus amores e desamores, gostos, amizades e inimizades.

Nestes poemas há uma influência notória de poetas gregos arcaicos como Safo e Arquíloco, por exemplo. Aliás o pseudónimo Lésbia é uma clara homenagem a Safo (que como se sabe era natural da ilha de Lesbos). Estes poetas gregos arcaicos foram imitados Calímaco e outros poetas alexandrinistas e, mais tarde, pelos poetae noui. Catulo introduziu na poesia lírica latina a métrica eólica (que tinha sido utilizada por Safo), embora Horácio (65 a.C. – 8 a.C.), alguns anos mais tarde, reclame, para si próprio, esse feito (Carmina, 3.30).

Por outro lado, os poetae noui foram também influenciados pelos poetas alexandrinistas. Quem eram estes alexandrinistas? Eram poetas do período helenístico, não do período clássico da literatura grega, e que tiveram Alexandria como o seu centro de difusão. Entre estes poetas encontramos nomes como Apolónio de Rodes (sec. III a.C.), Teócrito e Calímaco (sec. IV-III a.C.) ou Euforião (III-II a.C.).

Assim, em Alexandria, sob o reinado dos Ptolomeus, desenvolveu-se uma corrente poética que se formou em oposição aos poetas do período clássico e que renovou os cânones da poesia grega, tanto nas formas como nos temas, acabaram-se a descrição dos feitos de deuses e heróis, e uma grande curiosidade por histórias de mitologia pouco conhecidas ou obscuras. Isto fazia realçar a sua erudição. Estas histórias rebuscadas são vertidas em composições breves, muito trabalhadas. Cultivavam a brevidade e gostavam do pormenor e do perfeccionismo, realçados por novas criações vocabulares.

No caso de Catulo, entre os seus poemas longos, as suas três elegias (65, 66 e 68) bem como os poemas 63 sobre Attis e 64 sobre as bodas de Tétis e Peleu são directamente inspirados pela escola de Alexandria.

O legado de Catulo

Apesar de a sua obra se ter quase perdido e ser quase totalmente desconhecida durante a maior parte da Idade Média, a influência de Catulo foi enorme, para além na influência mais imediata que teve sobre os poetas romanos que lhe sucederam, como é o caso de Horácio ou Ovídio (43 a.C. – 17 d.C.), por exemplo.

A originalidade Catulo na paisagem da poesia latina provém, talvez, da franqueza com que fala dos seus estados de alma seja sobre as suas relações pessoais, seja sobre o seu tempestuoso relacionamento com Lésbia. É, como disse Américo da Costa Ramalho “uma das vozes mais genuínas de toda a poesia de Roma”.

7 comentários:

Anónimo disse...

Gostei imenso do blog. Sou aluna de Clássicas e Catulo é um dos meus favoritos; é deliciosamente vingativo nas suas críticas e desgostos. Boa continuação.

Anónimo disse...

olá, Rui
Li seu perfil mas não tive as informações que gostaria. Vc poderia me contar como faz as pesquisas para publicar os assuntos?
Acontece que sou estudante de Letras e estou usando seu blog como fonte para estudar para provas da faculdade, mas queria saber qual é sua formação profissional, por exemplo. Se não se importar...
Mt obrigada.
e-mail: gostoseenha_16@hotmail.com
(embora esse não seja meu e-mail principal esse pedido é sério! Mt obrgada mais uma vez)

Unknown disse...

Olá Rui! O blog está muito bom.
Sou aluna de Letras da UFPR, e gostaria de uma ajuda sobre um seminário que estou fazendo.
Meu tema de seminário é " A presença do feminino em Catulo", ou seja, a forma como e trata em seus poemas a amada Lésbia, e as diferentes formas como ele trata outras mulheres.
O trabalho é muito sério, e está solicitando muita pesquisa, porém a maioria das páginas de web encontradas sobre Catulo estão em outras línguas. Será que você pode me ajudar com algumas informções?
desde já grata.
pamela.conceicao@yahoo.com.br

Livia disse...

oi!
td bem?
estava olhando seu blog e achei mt interessante!
Sou aluna da UFV e estou preparando um seminario sobre Catulo e gostaria de saber se vc tem materias para me ajudar..

desde ja agradeço!

smcostta disse...

Parabéns Rui pela literatura latina. Alunos de todo o pais tem acessado o seu blog isso é que é compartilhar conhecimento
obrigado
Sebastiao

smcostta disse...

Parabéns Rui pela literatura latina. Alunos de todo o pais tem acessado o seu blog isso é que é compartilhar conhecimento
obrigado
Sebastiao

Rui Oliveira disse...

Obrigado. Tenho é tido pouco tempo para escrever no blog. Espero voltar a fazê-lo em breve.