segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Humanae Litterae - Parte I

Este artigo já era para ter sido publicado há muito tempo, na altura em que criei este blog, pois seria uma espécie de declaração de intenções e do projecto subjacente à sua criação.

Neste primeiro artigo dedicado às humanae litterae tecerei algumas considerações gerais que serão desenvolvidas em um ou mais artigos posteriores.

Depois de ter criado o Super Flumina, tive sempre a ideia de separar um pouco as águas e dedicar um outro blog, dedicado a temas que me interssam bastante, como a literatura, a linguística ou a tradução.

Mas porquê chamar-lhe ”Humanae Litterae”? Como aparte, devo dizer na verdade que não hesitei muito no momento de dar um título ao blog, pois “Humanae Litterae” veio-me logo à cabeça mas a explicação para isso não é lá muito simples.

Humanae Litterae remete-nos por uma época bem determinada da história da Humanidade, o Renascimento. Sobre este já muito se escreveu, mas muito ainda se há-de escrever e, de qualquer modo, há sempre novos aspectos a explorar. Não pretendo aqui, neste blog, fazer trabalhos de pesquisa sobre o assunto, mas antes dar conta de algumas das minhas opiniões sobre está época de que muita gente fala, mas nem sempre sabe do que está a falar.

Desde já digo que não partilho da visão, que aliás dá nome ao próprio movimento, de que o Renascimento representa uma recuperação de capacidades que, eventualmente, terão sido perdidas desde a Antiguidade, durante toda a Idade Média. A Idade Média não foi, e para isso basta analisar as suas realizações, uma “Idade das Trevas” pois, para além de não ter sido homogéneo – relembremo-nos que durou cerca de 1000 anos –, tendo ainda conservado muito do legado da Antiguidade.

Mas, se gosto bastante da Idade Média, o Renascimento exerce um fascínio especial, para além de eu estar bem mais habilitado em falar dele do que da Idade Média. Mais nenhuma época ficará excluída deste blog, embora eu pense que vai haver uma focalização especial não só sobre o Renascimento, mas também sobre o Maneirismo, o Barroco ou o Neoclassicismo. Haverá por isso uma preferência a temas que vão dos séculos XV a XVIII.

Bem, deixa-me voltar à pergunta inicial: “Humanae Litterae porquê?” Para isso vou ter que fazer uma pequena digressão pelo Renascimento para depois chegar as humanae litterae propriamente ditas, verificando ainda qual a sua relação com as sacrae litterae, relação essa que, ao contrário do que muitos pensam e dizem sobre o Renascimento ou o Humanismo, não era de oposição mas sim de uma conexão e integração recíproca como adiante se verá, passando ainda pelo conceito de Homem veículado pelos humanistas, esse sim, um pouco diferente do conceito da Antiguidade Clássica que os humanistas tinham tomado como ideal praticamente inultrapassável.

É claro que esta diferença no conceito de homem dos humanistas em relação aos escritores da Antiguidade Clássica provém do advento do Cristianismo. A dignitatis hominis, para os humanistas era tomada como um facto cristão, não hesitando em comparar o homem com o anjo, resolvendo-se este conflito, para os humanistas, sempre em favor do primeiro.

Mas estes são alguns dos pontos que tentarei desenvolver no(s) artigo(s) posterior(es).