quarta-feira, 5 de abril de 2006

Catulo - Parte I

Como prometido quando escrevi sobre Vergílio, passo agora a escrever sobre Catulo, um dos meu poetas preferidos. Hoje é a primeira parte, a sua biografia, ficando para amanhã a sua obra.

Introdução

Catulo foi um dos mais importantes poetas latinos do final da República, que influenciou muitos poetas romanos que se lhe seguiram, como Ovídio, Horácio ou Vergílio. Pertenceu a um círculo de poetas que romperam com a tradição romana da época, o que lhes valeu o epíteto, com conotações negativas, de poeta noui. Depois da queda do império, só no início do séc. XIV é que foi encontrado um exemplar completo da recolha dos seus poemas (apesar de Isidoro de Sevilha, séc. VII, nas suas Origines, ter citado um texto de Catulo). A partir daí a sua influência voltou a sentir-se sendo, actualmente, a sua obra amplamente estudada.

Biografia

Apesar da sua importância como poeta, pouco se sabe da vida de Catulo. A sua biografia terá sido feita por Suetónio em De Viris Illustribus, entre os poetas latinos, mas esta obra não chegou até nós. Assim, a maior parte daquilo que sabemos é pelas notas autobiográficas nos seus poemas.

Acredita-se, apesar de não haver certezas, de que terá nascido em Verona ou, pelo menos, perto de Verona, na Gália Cisalpina no seio de uma família nobre e rica em 87 – 84 a.C. As fontes antigas, por exemplo, Ovídio (Amores, 3. 15. 7) e Marcial (Epr., 14. 195) referem Verona como local de nascimento. O seu pai recebia César em casa quando este passava por Verona. No entanto, terminada a infância, encontramo-lo, muito jovem já fixado em Roma. Aí, moveu-se num meio culto onde encontrou, entre outros o historiador Cornélio Nepos e o gramático Valério Catão.

A sua vida em Roma foi muito agitada no meio da alta sociedade romana, onde conheceu muita gente importante do seu tempo, tendo mesmo incompatibilizado com alguma destas pessoas, tendo, por exemplo, versos violentos contra Júlio César (que no entanto se reconciliou com ele). Também Cícero foi visado por Catulo (o sentimento era recíproco, Cícero não gostava dos poeti noui).

Sabemos ainda que em 57 a.C. acompanhou o seu amigo Mémio à Bitínia, onde Mémio tinha recebido o cargo de governador. Todavia, em 56 a.C., Catulo voltou para Roma. Esta foi a única vez que se envolveu em política na sua vida. Enquanto esteve no Oriente, aproveitou para visitar o túmulo de um seu irmão mais velho, perto de Tróia, que tinha morrido uns anos antes e cujo desgosto de Catulo ficou bem expresso num dos seus poemas (101).

Também da sua biografia consta a sua relação com Lésbia. Esta relação é talvez o maior acontecimento da sua vida e, por isso, amplamente retarda na sua poesia. Lésbia é, calor está, um pseudónimo (cf. Ovídio, Tristia, 2. 427-428). Segundo a interpretação tradicional (cf. Apuleio, Apol. 10) o seu verdadeiro nome era Clódia, uma das três irmãs de P. Clódio Pulcher, casada com Q. Metelo Célere (que morreu em 59 a.C., envenenado pela mulher segundo as más línguas) e que foi cônsul em 60 a.C.

Depois da morte de Metelo, Clódia teve vários amantes. Cícero no seu Pro Caelio, um discurso judiciário (56 a.C.) em defesa de M. Célio Rufo, ex-amante de Clódia que foi acusado por esta de a querer envenenar, faz dela um retrato cruel. A relação entre Catulo e Clódia foi, a acreditar nos poemas que lhe são dedicados (uns de grande delicadeza, outros bastante ofensivos), bastante conflituosa.

Catulo teve uma vida curta, pois terá morrido entre 54-52 a.C.