Cumprindo a promessa de escrever sobre Macias, publico agora o primeiro artigo sobre este poeta, versando sobre os problemas do estabelecimento da sua biografia.
Muito pouco de concreto se sabe da vida de Macias, não se sabendo ao certo em que anos viveu. É um poeta da escola galego-castelhana, isto é, posterior à morte do D. Pedro, conde de Barcelos, em 1354, situando-se na passagem da poesia galego-portuguesa para poesia do séc. XV.
A sua obra não conserva referências que possam ser associadas a factos históricos conhecidos, apenas uma rubrica nos informa de que o poema o “fizo Macias contra el amor, enpero algunos trobadores tizen que la fizo contra el rrey don Pedro” (Cancioneiro de Baena, n.º 308). Tudo o resto provém da tradição, tal como a sua transformação no mártir por amor por excelência, o mais glosado na poesia peninsular nos sécs. XV e XVI.
Cronologicamente, parece ter vivido durante o reinado de Pedro, o Cruel, de Castela (reinou entre 1350 e 1369). Concorre também para esta opinião o facto do Marquês de Santillana (1398-1458) no seu Proemio e carta al condestable don Pedro de Portugal que diz, depois de falar da poesia galego-portuguesa:
Vasco Peres de Camões (c. 1330) foi um poeta galego que no final do séc. XIV esteve ao serviço do rei D. Fernando I de Portugal e durante a crise de 1383-1385 tomou o partido de Castela.
Juan Rodriguez del Padrón (1390-1450), poeta galego, conhecido como del Padrón por ter aí nascido, parece sugerir que Macias era galego e, mesmo, da mesma localidade quando liga a sua fama como mártir de amor com a de Macias.
Si te plaze que mis dias
yo fenezca mal logrado
tan en breve
plégate que com Macías
ser meresca sepultado:
y decir deue
do la sepultura sea:
una tierra los crió,
una muerte los leuó,
una gloria los possea.
(in António Paz Y Meliá, Obras de Juan Rodriguez de la Câmara (o del Padrón), Madrid, 1884, p. 13).
A esta definição da possível cronologia biográfica de Macias está também ligada a algumas das versões da tradição que o transformou no representante maior do mártir de amor, que terá uma grande influência na poesia cancioneiril na Península Ibérica. Esse será o próximo capítulo.
Después dellos [dos trovadores galego-portugueses] vinieron Vasco Peres de Camoes e Fernand Casquicio e aquel grande enamorado Macias, del qual no se fallan syno quatro canciones, pero ciertamente amorosas e muy fermosas sentencias, conuiene a saber: Catiuo de miña tristura, Amor cruel e brioso Señora, en quien fiança e Prouey de buscar mesura.
(Marqués de Santillana, Poesias Completas, II, Edición, introducción y notas de Manuel Durán, Madrid: Clásicos Castalia, p. 219)
yo fenezca mal logrado
tan en breve
plégate que com Macías
ser meresca sepultado:
y decir deue
do la sepultura sea:
una tierra los crió,
una muerte los leuó,
una gloria los possea.