Faz hoje 400 anos que nasceu D. Francisco Manuel de Melo. Como lembrança deste facto, deixo aqui um dos seu poemas.
Ao Arcanjo são Rafael, pedindo-lhe
dirija sua molesta navegação
Piloto Celestial, Norte divino
Primeiro Tifis, Palinuro belo,
Guiador de Tobias a Gabelo,
Igual luz que do Velho, do Minino
Este madeiro que sem luz, sem tino,
Corta do mundo tanto paralelo,
Que presago se mostra em seu desvelo,
Mais do naufrágio que do porto dino!
Socorrei e guiai, entre as porfias
Dos erros e das sombras que ignorante
O desviam do porto verdadeiro!
Qual como fostes a ambos os Tobias,
Do Pai mèzinha e médico elegante,
Do Filho guia e doce companheiro.
(D. Francisco Manuel de Melo, Poesias Escolhidas, Prefácio, selecção, notas, tábua de concordância e glossário poe José V. de Pina Martins, Editorial Verbo)
Blog sobre literatura e cultura em geral, com interesse especial em linguística e tradução. De Rui Oliveira.
domingo, 23 de novembro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Padre António Vieira
O alto funcionário ultramarino segundo o Padre António Vieira:
Aparece uma nuvem no meio daquela Baía, lança uma manga ao mar, vai sorvendo por oculto segredo da natureza grande quantidade de água; e depois que está bem cheia, depois que está bem carregada, dá-lhe o vento, e vai chover daqui a trinta, daqui a cinquenta léguas.Padre António Vieira, Sermão da Visitação de N. Senhora, pregado no Hospital da Misercórdia da Baía
Pois, nuvem ingrata, nuvem injusta: se na Baía tomaste essa água, se na Baía te encheste, porque não choves também na Baía? Se a tiraste de nós, porque a não despendes connosco? Se a roubaste a nossos mares, porque a não restituis a nossos campos? Tais como isto são muitas vezes os ministros que vêm ao Brasil - e é fortuna geral das partes ultramarinas. Partem de Portugal estas nuvens, passam as calmas da Linha, onde se diz que também refervem as consciências, e em chegando, verbi gratia, a esta Baía, não fazem mais que chupar, adquirir, ajuntar, encher-se (por meios ocultos, mas sabidos), e ao cabo de três ou quatro anos, em vez de fertilizarem a nossa terra com a água que era nossa, abrem as asas ao vento, e vão chover a Lisboa, esperdiçar a Madrid.
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